A solidão já não dói tanto. Já não é aquela faca serrilhada do Rambo, a se revirar nas entranhas. É apenas uma picada de injeção. Antes, não havia me encontrado, ainda. Vivia num labirinto, com cartazes indicando com flechinhas: "André-Metaleiro"- "André-Desenhista"- "André-Comunista"- "André-Revoltado-Com-Tudo-Não-Se-Encaixando-Em-Nada". Hoje, sei que sou simplesmente o "André-André". Um ser com sua individualidade, especial por isso mesmo. E, se gostando pela primeira vez na vida. Contente por sua condição de artista.
Mas, um ser bem imperfeito, ainda. Que no escuro do quarto, se encolhe como uma planta fincada num buraco escuro do metrô.
Coloco o "Violator" do Depeche Mode pra tocar, viajo naquele moderno som, de vinte anos atrás. E o que é moderno, hoje, o será daqui a vinte anos? O tempo não pára, como diria o Cazuza. Mas, coisas boas param de ser feitas. Eu acho. Esse disco foi bom, e continua sendo, assim com o os churros da minha infância, que eram maiores e com muito mais doce de leite. É a nossa percepção. Apenas isso. Hoje, para um moleque de roupas hiper-coloridas, o cd do Restart, é a melhor coisa já feita. Ele está errado? Talvez, daqui a vinte anos, ou muito menos, provavelmente, com a velocidade da informação de hoje, ele veja a sua escolha com imensa vergonha. Mas, hoje, isso é a melhor coisa que existe.
Meu primeiro beijo foi a melhor coisa do mundo. Foi. Hoje, me lembro com vergonha dele. Sinto apenas, falta, da alegria experimentada. Hoje, estou tranquilo após ter vivido razoavelmente bem, durante anos de solidão. Desde que me juntei a outros poetas, e formamos o grupo "Poetas do Tietê", nunca mais peguei ninguem. Cheguei até a pensar que fosse uma espécie de maldição. Que talvez, tivesse vendido a alma ao Capeta da Arte. Trocado o prazer carnal, pelo prazer poético.
Mas, e se for verdade? Nunca tive tesão na cama, que se comparasse ao tesão de estar com esse bando de malucos. Malucos como eu. O tesão da identificação. Cada um. Cada um. Mas, com uma loucura em comum!
Pessoas que me entenderiam, se eu dissesse que tinha mais prazer, quando criança, em procurar formas nas nuvens, do que interagir com um mundo cheio de injustiças. Eu era a cigarra a cantarolar, fazendo pouco das formiguinhas. E, esses meus colegas poetas, tambem são cigarras, como eu.
Agora, escuto boa musica, no escuro. Agradecendo a Deus e ao Capeta da Arte, por estar amarrado a mesma camisa de força coletiva, que me une aos Poetas do Tietê. Ouço algo fungando debaixo da porta. Abro, e minha cachorrinha corre e pula na cama. Me deito, e sinto a dor no pé, ainda não curado de uma inflamação. Gemo de dor, e minha amiguinha reconhece meu sentimento, e vem solícita, lamber meu rosto. Nesse momento, esqueço minha dor, e sorrio para meu animalzinho, que me encara com seus olhos, como gotas de mel, fazendo os meus se encherem de lágrimas.
E, penso que é isso, mesmo. Por mais bem situados que estivermos, sempre haverá aquele momento no escuro, em que aquela dorzinha vai pegar, e ter alguem que nos lamba, vai aliviar esse calcanhar dolorido, que às vezes, nos faz hesitar na caminhada cotidiana, fazendo-nos tropeçar, invariavelmente. Mas, saberemos que, logo aquela linguinha quente, vai nos fazer sorrir de novo.
Meu olhar se congela no olhar de meu bichinho de estimação, enquanto acaricio seu pêlo negro. Bem, na faixa "Enjoy The Silence", que diz: "Words are very unnecessary", ou seja: "Palavras são desnecessárias". E, esse momento, singelo, talvez, relembrado daqui a vinte anos, terá um significado importante, apesar de certamente ridículo.
segunda-feira, 12 de dezembro de 2011
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
Eita preula! muito boa crônica Andrezão!
Abrax!
Ótima crônica, Andrezão!
Só acho que não podemos estar unidos por uma camisa de força, mas pelas formas das nuvens. Quer dizer, é muito bom encontrarmos a nossa turma, sabermos com quem podemos contar e nos identificar, mas não podemos atrelar a nossa felicidade a isso ou aquilo.
Como diria o Barriguinha Man, a felicidade está nas pequenas coisas da vida!
Abraço,
Paulo
Postar um comentário