terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Uma Crônica Quase Vampiresca

   Acabei de devolver o livro "Drácula", de Bram Stoker, para meu amigo Paulo. Ele me perguntou se eu já tinha lido, pois se tratava de um calhamaço considerável. Disse que sim, mas menti. Cheguei quase ao final, mas não consegui terminar, pois  me senti deveras perturbado. Fiquei com muito medo, na verdade!
   O horror não me interessa mais como na adolescência. Recentemente, o tema vampírico veio a me chamar a atenção novamente, quando parei para assistir a série "Diários de Um Vampiro", no SBT. Fiquei cativado pelos belos rostos e pelo conflito "bem e mal", "mortal e imortal". Está certo que é uma série voltada para o publico adolescente, com um "quê" da infame saga "Crepúsculo", mas não sou tão radical assim, e até mesmo o "Crepúsculo", ao qual assisti o primeiro filme, não chega a ser tão desprezível, pois a fotografia e elenco são bonitos. Mas peca pelo roteiro fraquíssimo, e na idéia de jerico de fazer o vampiro brilhar na luz do sol. Fui atrás da fonte da "beleza vampírica". Percebi que o que me atraia nesses personagens, não era o horror, não era a monstruosidade. Mas sim, a sua "humanidade". Vê-los como a analogia daqueles que vivem à margem, os vampiros representam os "outsiders" da sociedade. E a mãe dessa idéia se chama Anne Rice, a autora das "Crônicas Vampirescas", iniciadas pelo fantástico "Entrevista com o Vampiro", com tradução no Brasil feita por Clarice Lispector, transformado em filme nos anos 90, estrelado por Tom Cruise, Brad Pitt e Antonio Banderas, passando muito bem a imagem na verdade, de "anjos caídos" e não de monstros, simplesmente. O que não me agradou no "Drácula", que é apenas uma história de monstro, com o mero objetivo de assustar. Mas como obra literária, o livro de Stoker é muito bom, sem duvida. Se trata de um "romance epistolar", formado por cartas e diários de vários personagens, mas no quesito "charme vampírico" é um verdadeiro "horror"!
   A saga de Rice (estou agora na metade de "O Vampiro Lestat") foi iniciada como válvula de escape para a dor da perda de sua filha ainda pequena (personificada na mini-vampira de "Entrevista"), abalando a sua fé, e tudo isso transparece nos diálogos filosóficos dos personagens. O bem e o mal, a existência de Deus, o que vem depois da morte. A imortalidade vale a pena? A obra de Rice é arte verdadeira. Feita de dor e duvida pungentemente humana. Não uma bobagem arquitetada simplesmente para arrancar o dinheiro de mocinhas suspirantes por romance, como o "Crepusculo".
   Olho para esses vampiros, como num espelho, e eles se refletem em mim. Não são demônios estupidos como Drácula, sem reflexo algum a ser refletido,  eles são a pura imagem do poeta! Se esgueirando, existindo e ao mesmo tempo não, passando despercebidos dos simples mortais entretidos em suas vidinhas vazias. O poeta não se alimenta de sangue, mas suga a beleza ao seu redor. Assim como os vampiros, ele sente tudo de forma mais forte. A dor é muito maior para ele. Quando ama, ama de maneira muito mais intensa! E o poeta não crê no fim! Ele será  sempre eterno! Mesmo que as estacas do cotidiano venham a se enterrar em seu coração apaixonado, mesmo que sua esperança seja reduzida a cinzas, sua essência não pode ser destruída. Pois mesmo que seja visto como um monstro pela maioria ignorante, sua beleza será enxergada pelos olhos mais sensíveis.

2 comentários:

Caranguejunior disse...

Muito bom Andrezão!
Massa...

Abrax!

Paulo D'Auria disse...

"Ninguém diga sou taradinho.
No fundo de cada filho de família dorme um vampiro" - Dalton Trevisan