quarta-feira, 9 de abril de 2014

A Barata Apareceu



Ela estava
parada a minha frente,
na beira da sarjeta,
Bem perto do meu pé,
Mas eu não pisei
Eu me vi naquela barata,
Eu a entendi,
caminhante dos detritos,
Provocadora de caretas de repulsa,
A barata não é diferente da gente,
E, na fase atual
me sinto bem barata,
não foi a metamorfose de Kafka,
não foi nada literário,
foi a casca inflamada que eu usava
que caiu,
a barata apareceu,
uns gritaram,
outros vomitaram,
Mas creio que o susto maior foi meu,
porque eu não consegui segurar a casca,
Pois sempre soube da existência da barata,
Não consegui mais escondê-la,
Como a cabeça do pau não-circuncidado
A casca
A casca foi o prepúcio que apodreceu
Foi culpa do esmegma da auto-depreciação
Sim
Eu sou barata
E vocês todos são bichos diferentes
Mas são todos bichos que rastejam no mesmo lixo
Todos seremos enterrados na mesma merda
Então não façam pouco
de minha natureza de barata
Se sobreviverei a vocês num desastre nuclear
isso não importa
sei que sobreviverei a mim mesmo
ao meu orgulho e aquele velho e tolo sentimento
de querer ser um bicho de sua espécie.

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