
João Trollone vê no noticiário que um sujeito foi preso por "estupro". Mas, na descrição do crime, o que reconhece é o desenlace infeliz de um ato da boa e velha 'encoxada'. Lembra-se de uma época, antes de ingressar no mercado de trabalho, em que havia menos ônibus rodando pelas ruas, e não havia a facilidade do atual 'Bilhete Único', em que você pega mais de uma linha em determinado tempo. Então, o que acontecia era uma maior incidência de veículos lotados do que ocorre hoje em dia.
E este jovem(na época), caminhava até algum ponto de ônibus no final da tarde, e só pegava o mais cheio possível, para praticar a "encoxada".
Mas naquela época, não haviam câmeras nem do próprio veículo e nem de celulares, nem manifestações furiosas como hoje, apenas um certo remexer-se e uma cara de desagrado, que era a senha para o encoxador 'consciente', como ele, sair e procurar uma 'encosto' mais amigável. Havia também, as manifestações bem humoradas, geralmente advindas de moças mais jovens, como no caso em que a encoxada da vez se curvou para a colega ao lado e disse:
--- O pinto tá duro!
E a outra:
--- Deve tá indo pro cinema pornô!
E as duas:
--- kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
E ele, claro, todo sem graça, se encaminhava para o fundo do ônibus.
E às vezes, o final mais constrangedor se dava justamente após aquela 'encoxada perfeita'. Quando a mulher se mantinha imóvel. Nem o corpo, nem o rosto se moviam, e ele já sentia a emoção a ponto de explodir como uma erupção vulcânica.
Depois de descer lambuzado uma vez, e ter a sorte de cair uma forte chuva, lhe molhando as calças por igual, achou que o melhor à fazer era começar a usar preservativos para não sujar as roupas. Só as suas roupas, que fique claro, sempre saía de perto da pessoa 'contemplada' a tempo de não sujá-la. Pois, como já disse, ele era um 'encoxador consciente', e não tinha intenção de causar dano ou injúria a quem quer que fôsse. Só a boa e velha encoxada, amigos. Depois, junto de colegas de escola, trocava impressões e táticas, e desse grupo saiu uma variação 'pedestre' da encoxada, que foi batizada de 'atolação'. Que consistia em se aproximar sorrateiramente de uma mulher, bem fornecida de 'conteúdo glúteo', 'atolar' a mão e sair correndo.
Chegou a confeccionar um "Manual do Atolador Anônimo" (o grupo se chamava A.A.A-"Associação dos Atoladores Anônimos"). Com direito a carteirinha com foto.
O manual consistia em ilustrações que mostravam um boneco no "ataque". De acordo com o modelo comum de apostilas escolares.
Realmente, eram outros tempos, em que raramente se via uma viatura policial nas ruas. Na sua última vez, seu dedo se prendeu acidentalmente na calcinha da mulher (ela usava um short de lycra) e quando tentou se desvencilhar, acabou estalando em sua bunda e ela começou a gritar como louca, o que o assustou terrivelmente. Depois desse incidente, abandonou a atolação, e aos poucos também, a encoxada, após ter sua vida salva por um colega, de (ironicamente, ser atropelado por um ônibus, e vejam só, já havia pego o costume de pegar o ônibus que a mãe de seu colega pegava para ir trabalhar). Depois de salvar-lhe da morte certa, achou que não seria de bom tom, continuar a encoxar a senhora sua mãe, por mais sedutor que fôssem aqueles ônibus cheios e aquele jeans apertado.
Completou dezoito anos, e sempre ouvia dizer sobre um sujeito que vivia na prisão, chamado "Tonhão Pé de Mesa" que tratava garotos jovens e safadinhos como meninas e naturalmente abandonou suas 'atividades-lubrico-extra-escolares' e decidiu entrar em contato com as nádegas alheias de modo consensual.
Ás vezes, ainda encontra um velho parceiro do 'A.A.A', que lhe pergunta se se aposentou mesmo, pois o "Joãzinho Trolha" de antigamente se entregava a essas velhas atividades com verdadeiro entusiasmo.
--- Quéisso! Coisa de moleque! Hoje sou um velho que vive de lembranças!
Agora, depois dos quarenta, se sente assustado e um pouco mais perdido do que sempre foi, neste mundo de protestos, coquetéis molotov, juventude barbuda e politizada, humoristas processados por causa de piadas 'politicamente incorretas', linchamentos on-line, barbarismo ao vivo, e por fim, o ato que na sua época era uma brincadeira de adolescentes espinhentos e solitários, com os hormônios à flor da pele, que visava o extravasamento do belo e natural florescer de sua sexualidade, ser taxado de 'estupro'.
Fica pensando no pobre encoxador que chega ao presídio com o rótulo de "estuprador". 'Tonhão-Pé-de-Mesa' é Madre Teresa perto da realidade! Ora! Todos sabem o destino dos estupradores na prisão! O cara vai ser enrabado pela cela inteira, sem sequer ter penetrado naquela pessoa do sexo feminino, no transporte publico! E será o primeiro a ser degolado, no caso de rebelião!
João fica realmente indignado com o mundo em que vive, em que o sujeito não pode mais se divertir em paz, sem ser esculachado pela sociedade hipócrita.
"É um molestador! Porrada nele! Violentou a moça da família cristã!"
Mas também, as lembranças das velhas aventuras lhe dão aquela nostalgia típica que acomete os homens em sua crise dos quarenta, fazendo com que tenha uma ereção à visão do ônibus 'Terminal Pirituba' lotado, que se aproxima.
--- Hmmmm...Sai...Sai...Tentação! Sou homem sério, agora!
Após pensar em algo 'broxante', tipo o Galvão Bueno na sauna com Ronaldinho e Casagrande, João Trollone sobe no ônibus, ajeitando a gravata de funcionário de banco, como para estrangular o 'Joãozinho Trolha' que ameaçava ressurgir. Ao adentrar o coletivo, indigna-se ao ver uma senhora grávida de pé, com um sujeito fingindo dormir no assento preferencial. João curva-se por trás da senhora, para chamar a atenção do 'folgado':
--- Ei, amigo! Não está vendo esta senhora, aqui??
Nisto, ele encosta nas nádegas da mulher, logo ficando excitado. Começa a tremer e suar, sentindo 'Joãozinho Trolha' tomar conta de seu ser, como um 'diabinho', que na verdade, ele nunca deixou de ser.
--- Aiiii...Bunda gostosaaa...
--- Oquê????
Nisso, o "dorminhoco" se levanta, agarra João pela gravata, e o joga para fora do ônibus, revertendo a situação e se tornando o herói perante os olhos dos demais passageiros.
João, largado no meio fio, apalpa o braço direito e sente que o quebrou, mas, mesmo assim, leva a mão esquerda para dentro da braguilha e desajeitadamente se masturba com a lembrança das nádegas da gestante.
--- Ooooohhhh...Vagabundaaa...
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