segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Infernos Imaginários?-Resenha de "In.Fer.N.O." de Paulo D'Auria e "Imaginários Impróprios"-de Makenzo Kobayashi



"Puxa-saquismo" com os amigos? Não. Não sou de puxar o saco. Mas também não espezinho ninguém. Se a obra de um amigo não me agrada, simplesmente não lhe digo nada. O lance é o estímulo. Escrevo quando algo me faz 'sentir'. E os dois livros de que falo, foram os que me fizeram 'sentir' mais intensamente nos últimos tempos.
Livros que, por coincidência são de amigos. As duas leituras mexeram bastante comigo, e olha que sou um leitor voraz, verdadeiro rato de sebo, que devora uma obra atrás da outra, como deliciosos queijos. Li primeiro "In.Fer.N.O.", de Paulo D'auria, que chamou-me a atenção por pegar emprestado o conceito de "O Inferno de Dante" e transportá-lo para a realidade brasileira, o que resultou numa obra de horror que não deve nada à um Stephen King, autor que evoca o medo de dentro dos cenários mais realistas. Mas a diferença é que D'Auria não é autor 'pop star', e escreve com o intuito de mudar o mundo. "Verdade seja dita: a sociedade, aliviada com o paulatino resfriamento das rebeliões, estava feliz assim. Melhor não cutucar esse vespeiro"... Paulo sabe que é assim. Paulo, que não é 'Coelho', um produto bonitinho com rabinho de algodão, sabe que se deve cutucar o vespeiro, chamar pra briga. Folclore e espiritualismo são as cores que cobrem o tétrico cenário da realidade brasileira. O negócio não é bonito. É um chute no estômago. Vai mudar o mundo? Talvez não. Mas nosso Paulo, que não é 'Coelho', sabe que temos que lutar pra mudar a situação, pois a felicidade não está comodamente instalada no nosso quintal. Só se for o quintal dos monstros descritos em seu "In.Fer.N.O".
Agora, vamos de Makenzo Kobayashi. Diferente do livro de D'Auria, "Imaginários Impróprios" não me trouxe aquela sensação de incômodo, mas sim, em uma página, me via sorrindo, divertido, e em outras, me via excitado, com uma ereção, coisa que as velhas e manjadas revistas eróticas já não conseguem com o mesmo êxito. Eu entendi 'o tarado'. 'O sujo'. O imoral'. E só os hipócritas se dirão enojados ao ler as linhas libidinosas de Makenzo, que como Mattoso, mete a língua portuguesa na sujeira, com gosto. Sade nunca foi diferente de ninguém, apenas exteriorizava o que a falsa moral, a religião e os bons costumes atacavam. Ou seja, todos são e podem ser 'putos', mas desde que façam suas 'putarias' às escondidas. Como Sade, Makenzo Kobayashi é 'pecador assumido'. E só quem tem orgulho de admitir as suas baixezas (na verdade, asas, na concepção libertária do pensamento Kobayashista) pode admitir a beleza de versos tais: "não quero saber de lavar a minha cabeça/porque amo completamente a minha sujeira".
"Repetitivo! Cru! Simplório!" Dirão seus detratores. Pois digo, que aí está a delícia de se sorver a poesia 'Kobayashista'. Simples. Direto e repetitivo como o 'vai e vem' numa boa foda. Se fosse compatriota e contemporâneo de Bukowski, Kobayashi também seria ovacionado. Chamado a declamar nas universidades sua obscena ânsia por liberdade do indivíduo, tanto sexual como intelectual e o escambau! Lhe pagariam, além do cachê, vinho e cerveja e mulheres velhas e novas viriam dar para o poeta, que como um santo às avessas, não diz nada mais, que a 'puta' verdade. Pois como diz em "Verbo Dar":"Eles dão/Elas dão/Vocês dão/Eu Como".
É como o bom sexo deve ser, são sempre os mesmos buracos a serem penetrados. A coisa é simples demais. A boca que sorve o suco do outro. O pipi que entra no popó alheio, ou vice-versa. Quem complica, é avesso à natureza. E é pela natureza que estamos aqui, mais uma vez citando o 'divino marquês'. Independente de uma crença num poder superior. Se não fosse pela corrida alucinada da porra ao útero, nenhum de nós estaria aqui. E viva a putaria! A putaria é vida! E mesmo que os incautos espermatozoides venham a morrer na palma da mão, ou em 'buracos não procriativos', como o poeta descreve em 'Poema Anal', que nos remete ao clássico maldito de Verlaine e Rimbaud: "Soneto do Olho do Cu", mesmo assim, é a chamada da natureza que não deve ser ignorada, pois a punheta alivia o solitário, e o cu, em toda sua sensibilidade, porque estar destinado à um eterno 'encagalhamento'?
Não falei antes, que "In.Fer.N.O." é prosa, e que "Imaginários Impróprios" é poesia? Ora! Paulo D'Auria nos brinda com passagens poéticas, ao descrever seu cenário de horror. É belo? Não. E para quem pensa ainda que a poesia deve ser bela e inspiradora de bons sentimentos...Sinto muito, ela pode ser dura, feia, mas sim, pode penetrar fundo "no útero da libertação". Vocês podem odiar Paulo D'Auria e Makenzo Kobayashi. Mas, apenas porque eles 'cutucam o vespeiro', podem virar o rosto e acharem que são lunáticos vivendo em "Infernos Imaginários". Mas eles são o caminho, a verdade e a vida. E ninguém que queira chegar a felicidade, o conseguirá, como um "Coelho" sentado em cima de seu rabo de pom-pom, se masturbando, longe dos olhares alheios, com videos grotescos da internet, na segurança e tranquilidade de seu quintal, com muros altos, arame farpado e câmera de vigilância, voltar pra cama, rezar, e meter o pau nos outros no dia seguinte. Hipocritamente, e não prazerosamente como Kobayashi.

Um comentário:

Caranguejunior disse...

Eu só fã desses caras... e de ti Andrezão!