segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Pra Não Dizer Que Não Falei de Dodô e Osmar (Ou pelo Direito de Pegar na Caca)



"Matamos o tempo, o tempo nos enterra". Pra você ver a situação, abro o texto com uma frase que não é minha, mas do Machadão, em "Memórias Póstumas de Brás Cubas". Ontem, deitei rezando a São Rivotril, por inspiração, para escrever alguma coisa, pois ficar muito tempo sem escrever é algo triste, meus amigos. É como uma função fisiológica. É preciso botar todo o dejeto sentimental pra fora, se não, fica-se doente, e a inspiração é o purgante que a gente toma, e é preciso ter o celular ou papel na mão, porque podemos nos cagar todos, se de repente, o efeito se der no meio da rua.
Porque citei "Brás Cubas", mesmo?? Ah, sim! O tempo...O tempo é um rolo compressor de acontecimentos, que passa por cima de nossos dias, transformando-os em pastéis de carne crua, mas se deixamos passar muito (tempo?dããã...)para digerir os dito cujos, a azia é certa.
E a azia está me queimando essa noite. Vocês me entendem? Ou será que estou sendo claro, como um fanho ao microfone? Ás vezes, penso que ainda há muito material aqui dentro, só que não sei como oferecê-la ao mundo. Se o regurgito, como vômito, ou se o cago. Lendo um livro de psicanálise, me parece que talvez, ainda esteja estacionado na 'fase anal'.Mas a gente, que tem facilidade em revolver a merda, é complicado, se de repente, queremos oferecê-la ao mundo, como um buquê de rosas. As pessoas não entendem que aquela coisa nojenta é o nosso íntimo mais sincero. Sem retoques.Ao escolher um texto para uma antologia, meu amigo Paulo achou que era melhor não usar o poema "Cocô Seco", mas se o livro se destina às escolas, quem melhor que os jovens, para compreender a escatologia? Não estarão eles, mais próximos a fase anal, que este quarentão que vos fala?
Então...Acho que ainda há muita merda aqui dentro, a lhes oferecer...Mas, existe essa maldita falha de comunicação...Ás vezes, me parece que eu e o mundo somos dois surdo mudos manetas, que não conseguem chegar a acordo nenhum.
Dia desses, observei uma criança acompanhada da avó, se agachar pra pegar algo no chão, no que a velhinha bate em sua mão e diz:
--- Não pega! É caca!
Eu me vi no rosto choroso daquele menino. Vi que talvez, ele se agarrará com unhas e dentes, à fase anal, e será assim como eu, um lutador pelo direito de pegar na caca.
E pra não dizer que não falei em Dodô e Osmar,finalmente consegui dormir. Me vi sendo empurrado numa muvuca infernal. Isso...Entendi... Orei pra São Rivotril, mas Ele não me ouviu...Não era o "In.Fer.No" de Paulo D'Auria, era mais terrível! Era Salvador em seu eterno carnaval, mais quente que uma fornalha. Pessoas alucinadas pulavam atrás do trio elétrico.Eu tentava sair fora, mas mais gente aparecia e eu não via escapatória. No alto do trio elétrico de Dodô e Osmar, vi Caetano com chifres, rindo de mim:
--- Atrás do trio elétrico, só não vai quem já morreu!
Entrei em desespero. Para não ir atrás do maldito trio elétrico, só vi uma solução. Saquei uma folha de papel do bolso e uma caneta. Escrevi o poema "Cocô Seco" e o espetei em minha barriga, com a caneta. Comecei a apodrecer, e meu cadáver se abriu, como uma flor malcheirosa. Minhas vísceras se espalharam, fazendo os foliões infernais ao meu redor escorregarem e quebrarem os crânios no chão, como cocos (não cocôs). Meus braços ainda se moviam e ofereceram a Caetano, a merda borbulhante que saía de meu íntimo. Caetano gritou. Disse que não aguentava aquilo. Que admirava Glauco Mattoso, mas que minha merda não tinha estética, métrica, nem porra nenhuma, ou não. Mandou-me a puta que pariu e partiu com o trio elétrico, com Dodô e Osmar ao seu lado, balançando a cabeça tristemente.
Acordei com dor de barriga. E estou escrevendo este texto, no vaso. E lhes ofereço essa caca. E peço que aceitem, com a condescendência de um adulto, que ainda tem vívida em suas entranhas, uma época de maior aproximação com os fluídos ditos impuros, mas que são nossa verdadeira essência.
Peço que a aceitem. Pelo menos, na minha frente. Depois, podem lavar as mãos. Afinal, num mundo tão mascarado, em que a vida insípida e virtual se tornou como luvas de látex, com a qual podemos lidar com a merda da realidade, onde há mais importância 'likes' e milhões de amigos de mentirinha, é preciso se livrar de verdades tão sinceramente sujas. Pode ser contagioso.

Um comentário:

Caranguejunior disse...

Fuderoso texto Andrezão!

bem cru e sincero! vc é foda nas crônicas! deveria escrever um próximo livro de crônicas, pois curto o estilo visceral que elas tem!

abrax!