Me apoio no ponto de ônibus, mais para não cair de sono do que para esperar o dito busão. Mas que eu tinha que pegar o ônibus, eu tinha. Ir de uma fuga para outra, na trajetória desta tragédia cotidiana, chamada vida, que não leva a lugar algum. No puteiro do outro lado da rua, toca 'Pablo' no volume máximo, fazendo a minha espera mais dolorida ainda, como se eu fosse uma câimbra no nervo da coxa cabeluda da vida. Sou despertado pelo roçar de pezinhos contra pedrinhas e a mãe ralhando com a criança:
---Lorraneee!! Por favooor!!!
Daí me dou conta que viver em sociedade é isso. É. A sociedade são os pés da vida remexendo nas pedras de seus sonhos,onde você está enterrado até o pescoço, ela raspa os pés até espalhar a porra dos seus sonhos pra longe.
Aquele dia acordei de um lindo sonho. Ao me ver privado do mundo da fantasia e tendo de encarar mais um cinzento dia de realidade, percebi o que eram de fato os sonhos: Colchas de retalhos coloridos sobre a sepultura nossa de cada dia.
Examino a picada do pernilongo que não vi em meu braço, e á assim que defino o sentimento daquela manhã. Sonhei com ela. Mas vocês sabem como é a paixão: É como apagar fogo com gasolina.
E mesmo quando amadurecemos, a saudade não muda, é como ter 5 anos de idade, é tudo belo e as preocupações são do tipo ter emprestado o brinquedo e o coleguinha não devolveu mais.
Mas minha história se passa alguns anos após os idílicos 5 anos. Talvez tivesse 10 ou 11 anos, aquela idade em que nossos pais acham que já não somos tão imbecis e já podemos ir fazer compras pra eles.. No caso, era pra comprar um saquinho de leite, o qual acabei deixando cair no trajeto de volta.
--- É um leite só pra cada um!
---Mas...Mas eu deixei cair...
-- Já falei que é um leite só pra cada um!
Fiquei olhando aquele chale negro no pescoço da portuguesa, imaginando que poderia ser a corda de uma forca. Infelizmente não era. Chegando em casa, tomei uma bronca. Abaixo do puteiro, observo que também há uma padaria, e fico pensando que aquele chale negro, uma bela corda de forca daria... Meus devaneios são interrompidos pelo meu ônibus que passa rasgando e que não pára ante meu resfolegante agitar de braços.
--- Vida!!! Por favooor!!!!!!
Um comentário:
porra! muito bom Andrezão!
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