A catarata
me impede de fazer o que sempre amei: Ler. Então, já a algum tempo,
entreguei-me ao repulsivo hábito de assistir televisão, tendo de enfrentar
bravamente a ofensiva programação aberta. Ás vezes a pressão é tão grande, que
penso em me atirar sobre o aparelho, abraçando-o e assim tentando impedir um
verdadeiro nocaute anti-cultural.
Algum tempo
atrás, parei pra ver essa porra de MMA. Nunca fui de briga. Minha vida sempre
foi um “grande abraço covarde”. Explico: É aquele momento em que um dos dois
lutadores abraça o outro, quando a porrada começar a ficar séria. Mas no caso
dessa modernice de artes marciais mistas, a coisa já é demais. Nego agarra o
outro num frango assado dos mais pornográficos. “Não pode ficar de pau duro! Se
o cara ficar de pau duro, tá fodido”! Me disse um amigo praticante de
Jiu-Jitsu, sobre o agarramento tatâmico. Boas mesmo eram as lutas do Maguila.
Nosso herói do bom e velho boxe. O cara nunca abraçava, mas era abraçado pra
caralho. Assistia suas lutas com mais gosto que os filmes de Stallone ou
Scwarzenegger. A porrada era real e o cara era bem próximo da gente. Próximo e
com o mesmo linguajar do peão de obras
que víamos na esquina ou aquele cara que sempre estava bebendo pinga no boteco,
dia ou noite. Pois até pra ser pinguço, tinha que ser macho.
Meu abraço
covarde sempre estava à disposição no meu bolso, junto a uma folha de papel.
Era a caneta Bic, sempre levantada como se fosse um golpe de direita, mas
sempre acabava como um abracinho dos
mais vergonhosos, em volta do pescoço de touro bravo da vida. Já estou no fim
da picada e com plena consciência que meu abraço covarde não terá mais tempo de
se disfarçar como algo mais feroz, como a mordida dada por Tyson, na orelha de
Holyfield. Será sempre poesia e lamentação, até o ponto final, que se aproxima,
inexorável. Ou enfim, o soar do gongo, que afinal, é o sinal da libertação de
todo lutador covarde.
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