sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Minha Vida Sempre Foi Um Grande Abraço Covarde


A catarata me impede de fazer o que sempre amei: Ler. Então, já a algum tempo, entreguei-me ao repulsivo hábito de assistir televisão, tendo de enfrentar bravamente a ofensiva programação aberta. Ás vezes a pressão é tão grande, que penso em me atirar sobre o aparelho, abraçando-o e assim tentando impedir um verdadeiro nocaute anti-cultural.
Algum tempo atrás, parei pra ver essa porra de MMA. Nunca fui de briga. Minha vida sempre foi um “grande abraço covarde”. Explico: É aquele momento em que um dos dois lutadores abraça o outro, quando a porrada começar a ficar séria. Mas no caso dessa modernice de artes marciais mistas, a coisa já é demais. Nego agarra o outro num frango assado dos mais pornográficos. “Não pode ficar de pau duro! Se o cara ficar de pau duro, tá fodido”! Me disse um amigo praticante de Jiu-Jitsu, sobre o agarramento tatâmico. Boas mesmo eram as lutas do Maguila. Nosso herói do bom e velho boxe. O cara nunca abraçava, mas era abraçado pra caralho. Assistia suas lutas com mais gosto que os filmes de Stallone ou Scwarzenegger. A porrada era real e o cara era bem próximo da gente. Próximo e com o mesmo linguajar  do peão de obras que víamos na esquina ou aquele cara que sempre estava bebendo pinga no boteco, dia ou noite. Pois até pra ser pinguço, tinha que ser macho.
Meu abraço covarde sempre estava à disposição no meu bolso, junto a uma folha de papel. Era a caneta Bic, sempre levantada como se fosse um golpe de direita, mas sempre acabava como um abracinho  dos mais vergonhosos, em volta do pescoço de touro bravo da vida. Já estou no fim da picada e com plena consciência que meu abraço covarde não terá mais tempo de se disfarçar como algo mais feroz, como a mordida dada por Tyson, na orelha de Holyfield. Será sempre poesia e lamentação, até o ponto final, que se aproxima, inexorável. Ou enfim, o soar do gongo, que afinal, é o sinal da libertação de todo lutador covarde.

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