quinta-feira, 29 de agosto de 2019

Pequeno Relato de Uma Tristeza Sem Fim

Você não me sorri,
mas me basta esse semblante
diabolicamente angelical,
os livros derrubados aos seus pés imobilizados
me dizem com suas páginas escancaradas,
bocas de almas penadas,
que você sente muito por minha sanidade,
esta pessoa obesa e desajeitada
a beira da piscina
e todos riem ao vê-la sacudir
os braços opulentos em pedido de socorro,
O telefone toca,
não há som do outro lado,
As tatuagens são arranhadas
e não há carne viva por debaixo,
Os piercings são puxados
e não há respostas nos orifícios sangrentos,
A mangueira no jardim
enrolada como serpente prestes a dar o bote
é como minha expectativa diante
de teu corpo nu, tão frágil e acessível
como páginas de uma revista masculina
velha e pegajosa,
Melancolicamente agarro e deslizo num vai e vem lubrico
a caneta sobre o papel,
deixando vestígios molhados
lágrimas que caem amargas
neste pequeno relato de uma tristeza sem fim.

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