terça-feira, 30 de março de 2021

Crônica Para Carecas

 

Acabo de ver uma enquete num desses bobos programas de TV da tarde. "Qual o careca mais sexy"? 

Quando criança levava tudo muito ao pé da letra, e ao escutar aquela marchinha carnavalesca: "É dos carecas que elas gostam mais"! ficava intrigado, mas acreditava piamente naquela balela. Sem a malícia de captar a piada da coisa. Então, a perspectiva da calvície fatal não chegava a me entristecer demais, mas tornava-se de fato, quase uma esperança de me tornar um "sem telha" popular entre o mulherio em chamas diante de tão brilhante fronte. 

Enquanto crescia, e ainda ostentava uma cabeleira, se não encorpada, mas que ainda não deixava entrever as cruéis "entradas", procurava me encaixar em modelos do que em minha ânsia por uma namorada me parecessem o que deveria ser chamado de "viril". Alguém aí lembra do velho cowboy dos comerciais do cigarro Marlboro? Poisé... Adquiri o nefasto hábito do tabagismo, achando que sugar aquela fumaça tóxica para dentro dos pulmões me faria parecer mais macho e atraente para as moçoilas a suspirar por másculos personagens, que apareciam para salvá-las do perigo, nas páginas de subliteraturas tais como os livrinhos da coleção "Sabrina".

Então, o tempo passa..O tempo voa... E como o Banco Bamerindus, minha cabeleira não continuou numa boa..Perdeu-se. Finou-se, fio a fio. Claro, tive meus relacionamentos aqui e ali, mas nada que tenha tido a ver com a galopante perda capilar. Nenhuma delas passou os dedos carinhosamente pelas vastas entradas, nem elogiou o escalvado crânio do poeta. 

Hoje, minha alegria relacionada com a calvície, enfim, bem assumida, nada tem a ver com o difícil e pedregoso terreno dos relacionamentos amorosos. Sinto agora, o prazer de não necessitar mais comprar shampoo, apenas passando o sabonete na careca, assim como no corpo inteiro, e também poder dispensar o uso do velho pente, apenas um passar de dedos rápido se os fios teimosos que ainda não desistiram dessa reluzente cabeça decidem ficar em pé. E sem esquecer a utilidade publica de servir de referência quando alguém está procurando uma rua: "Olha! Tá vendo aquele careca ali? Então...Ali você entra a direita!"

Enfim, sem cabelos, mas também, sem pente, nem shampoo. E agora, com o passar dos anos, experiências, desilusões e "calosidades" que a vida submete a todos os homens, sejam carecas ou portadores de grandes "jubas", gordos ou magros,  ao analisar profundamente a questão do "que é do que elas gostam mais"... A questão não é tão simples como me parecia na infância e juventude... O negócio é de fato bem mais cabeludo!

Nenhum comentário: