terça-feira, 4 de julho de 2023

O Estranho Homem Que Cheirava Flores

 

Da escola só herdei os traumas e a poesia... Mas a poesia no sentido de aprender a escrever versos. Eis que então nesse ultimo domingo, tive a certeza que a poesia de fato existe em pequenos gestos que não dependem de escolaridade ou erudição... A poesia sempre morou em mim, no meu coração que sempre bateu mais forte diante da beleza ou de modo aflitivo, diante da maldade humana. Sempre morou em mim, nos meus olhos marejados diante de um mundo que escarnecia de minha sensibilidade, e isso desde os tempos de escola, onde já aprendi cedo que o valor de "ser homem" estava em sair na mão na hora da saída após o famigerado "Te pego lá fora!"... 

Neste ultimo domingo, me encontrava num sarau de poesia, e uma estranha cena tirou minha concentração da pessoa que declamava ao microfone. Um senhor de longos cabelos e  barbas brancas  esgueirou-se por trás da tenda montada para o sarau, e com dificuldade chegou até as rosas amarelas que se encontravam na parte de trás, puxou uma para de encontro ao velho e calejado nariz e aspirou seu perfume, depois esgueirou-se novamente para a parte externa e foi andando, parando mais à frente para cheirar outra rosa, agora de cor vermelha. Aquela cena impactou-me de um modo que apenas continuei sentado em meu lugar e acompanhei o sarau até o fim por mera formalidade, pois toda a poesia daquela tarde estava contida no gesto que para as pessoas que normalmente correm apressadas pela Avenida Paulista poderia parecer prova da insanidade daquele idoso. De qualquer maneira é como se houvesse de fato, uma "lei da atração" e nada mais coerente que uma pessoa que sinta-se atraído pela beleza não destoasse daquele ambiente dedicado à consagração da arte de se criar poesia. Mais uma vez digo, criar no sentido em que aprendemos na escola, colocar uma palavra atrás da outra e construir versos, mas que de nada adianta, tornando-se algo vazio, se não for preenchido pela verdadeira arte de se assumir a sensibilidade de se desprender dos farrapos do orgulho humano e vestir a colorida pluma do beija-flor que se esgueira pela rude floresta de concreto até o encontro da beleza que ainda resiste, ela poesia como a alma do verdadeiro poeta.


André Diaz

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