Neste sábado, fui à um sarau diferente do que estou acostumado, o publico era formado por moradores de rua, e alguns deles tambem foram lá na frente, se apresentar.
Fui pego de surpresa, não sabia que se tratava de um ambiente assim. Não consegui ir lá na frente. Senti-me intimidado com a algazarra e o cheiro de cachaça que impregnava o ar. Tinha um velhinho esbravejando que queria se apresentar, pois ele era "o melhor do mundo".
Quando finalmente chegou sua vez, disse que iria cantar uma musica sua, registrada. E começou a tocar com dificuldade, o violão, e a cantar uma musica do Roberto Carlos.
A emoção no seu rosto, me emocionou. Tá certo. Foi redundante o que acabei de dizer, mas foi isso, caraca! Simples! As vezes, as palavras são demais. Fiquei emocionado. Só isso. O homem espezinhado, ou pelo destino, se quiserem pensar assim, ou pelas circunstâncias. Fraquezas. Falta de oportunidades. Aquele ser esmagado se inflou. A substância espatifada tomou forma humana.
Naquele momento, ele era grande. Ele era gente. Naquele momento, Roberto Carlos não tinha nenhum direito sobre aquela velha canção. O mendigo era o Rei! Os aplausos dos excluídos. Dos miseráveis. Dos invisiveis. E o rei tirou sua coroa e voltou a ser parte da pobre ralé. Seus lindos suditos.
Porque naquele momento, naquele palco improvisado, eles eram lindos em sua imundície, seus hematomas, sua emporcalhada dignidade das ruas.
Havia um travesti sentado a minha frente. Um rapaz com pés negros de sujeira, o beija de modo singelo. Chamando-o de princesa. E ele era, realmente, sua linda princesa, naquele momento. Uma doce menina, apesar da barba por fazer, e a tatuagem típica de presídio, nas costas.
Não tenho mais palavras. Enrolei até demais. Pois foi tudo tão simples. Enquanto escrevo, "The Doors" toca no som, abrindo-me essas "portas da percepção". Vislumbro Jim Morrison, como um São Sebastião da sarjeta, com seringas e cacos de garrafa no lugar das flechas a dilacerar-lhe a carne, enquanto me diz: "This is the end...My only friend...The end..."
segunda-feira, 2 de abril de 2012
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Um comentário:
Porra! pena eu n ter ido, todos eles são poetas das ruas, e só poeta entende poetas...
Abrax!
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