quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Todo Mundo Fala Palavrão

    Em comemoração à minha fase nostálgica da juventude, depois de voltar à curtir o Kiss, resolvi voltar os meus ouvidos velhinhos para uma tendência no rock nacional dos anos 90, letras escatológicas, com muitos palavrões. Pensou em Raimundos? Charlie Brown Jr? Suínos Tesudos? Nada disso. O cd que adquiri é "Tudo ao Mesmo Tempo Agora" dos oitentistas Titãs. Foi um disco esculhambado pela crítica na época. Crítica essa que ovacionou anos antes, "Cabeça Dinossauro", que trouxe o punk para o mundo pop, com suas críticas, cuspindo nas sagradas instituições, etc. E, porque esculacharam com "Tudo"? Porque sua virulência não tem um alvo específico. Não é engajada. É pura arte! Não o fruto do inconformismo que permeou "Cabeça", que hoje é revisitado pela banda. Toda injúria justificada é perdoada. Quando o escatológico aparece em publico, simplesmente porque é a secreção que tem que sair, após o estouro da bolha... Simplesmente porque é o acumulo de gases em nosso ventre...Ah! Meu querido! É um escândalo! Versos cantados por Nando Reis em "Isso Para Mim é Perfume" como: "Chupar o seu dedão/Cheirar sua calcinha suja de menstruação/A cabeça do pau faz esporra de leite/" e que acaba com o singelo: "Amor, eu quero te ver cagar" (dizem que o "amor" em questão era a Marisa Monte) causam horror porque é algo interior que, na nossa sociedade hipócrita deve se manter trancado, como a porta do banheiro quando estamos fazendo cocô. É a intimidade partilhada. É isso que choca. Pessoas de bem, não falam palavrão. A "merda" falada, deve ser mantida em segredo, assim como a merda cagada. Muitos que lerem essa crônica, acharão que sou um louco sem vergonha nenhuma na cara, por decidir jogar essa "merda" no ventilador. Mas é com grande prazer que a jogo. Para que serve ser artista? Acho que está nessa liberdade de jogar a merda, mesmo. E digo, o artista que não tem rabo preso. "Tudo Ao mesmo Tempo" foi produzido pelos próprios Titãs, sem produtor Liminha nenhum, para "limar" as arestas que pudessem ferir a dignidade alheia.   O disco incomoda, não por mostrar algo diferente do que somos, mas exatamente por jogar na cara, nosso interior nauseabundo, que tentamos esconder de toda forma. Isso já é mostrado logo na capa, montada a partir da enciclopédia Barsa. É nossa anatomia asquerosa estampada lá. E não adianta dizer, que não temos nada a ver com aquilo. Que libertador dizer que se quer ver o seu amor, cagar! Eu mesmo, assim como o personagem poeta do filme "Febre do Rato", sempre pedi pros meus amores mijarem na minha frente. E daí? Porque você está torcendo a boca, ao ler isso? Vai parar por aqui, porque futuquei aquela ferida purulenta que você guarda bem escondidinha? Porque ao ler isso, sente que puxo suas calças, revelando aquele velho furunculo? Não estou aqui, pra ofender ninguem. Só pra dizer a verdade. Pena que a verdade ofende.
 --- Menina! Viu esse doido do André, agora? Além de não esconder de ninguem que gosta de lamber pé, agora vem falar que gosta de ver seu amor fazendo xixi? Falando que palavrão é normal? Tá precisando é se benzer! Esses artistas são um bando de loucos!
---- Nunca me enganou aquela cara de santinho! Todo quietinho, hein? Esses são os piores!
     Poisé. Quem fala o que quer...Mas que importância tem isso? Se é a arte que me impulsiona, posso montar castelos, não de areia, mas de estrume de cavalo... Considerar o prato mais fino e delicioso, o queijo gorgonzola, pois "Isso Para Mim, É Perfume".  E, para fechar, ins"pirado" pela poesia do genial disco rejeitado dos Titãs (porque versos como os que citei, são poesia, do tipo de Glauco Mattoso, ou  meu amigo Paulo D'Auria, mas são, ou seja, poesia que diz a verdade, que não "floreia", e por isso, dita "maldita"), resolvi deixar aqui, minha poesia em homenagem ao escândaloso palavrão, que nada mais é, que nós mesmos, sem as velhas máscaras:

 Todo Mundo Fala Palavrão

Todo mundo fala,
às vezes, se sente "cu"lpado,
Todo mundo cala,
Mas, na injúria
muito já havia mamado,

"Pô! Ra" "imundo!"
 Deixa de ter a boca tão suja,
 Que tá mais prum buraco sem fundo
 Deus vai te deixar com a lingua murcha!

 Ah! Minha senhora!
 Ainda há de topar numa pedra
 Ainda há de chegar sua hora,
A "grande palavra" virá estrondosa e certa!

E outra coisa tambem é certa!
Todo mundo fala palavrão,
Cacete! Porra! Merda!
Até a digníssima senhora sua mãe, meu irmão!


                                         
                                         
                                     
                                      
                                       

                                     
                                        
                                       
                                          

                                       
                                             
                                           
                                          

                                            
                                            
                                          
               

Um comentário:

Caranguejunior disse...

Andrezão!
Como sempre suas crônicas, matando a pau!

Esse disco do Titãs é o melhor, fazia roda de pogo na aborrecência com meus amigos.

Ducaralho!