terça-feira, 7 de abril de 2015

EU, ELA, O FILHO DELA E A PORRA DO UNICÓRNIO



--- A única coisa que mulher dá sem reclamar, é despesa! Huahuahauahau

--- Não é só isso, Jerônimo... E mulher tem aquele negócio... Você começa a discutir, daí ela vem com coisa de vinte anos atrás!
Ouço a conversa dos dois idosos ao meu lado, enquanto um bracinho de criança puxa minha mão.
--- Tio! Tio! Compra! Compra!
Acabei de conhecer uma moça. Mãe solteira. Meio 'riponga', ou sei lá como chamamos essas garotas de hoje, que usam longas saias coloridas, andam sempre com pés imundos em sandálias de couro e apesar de terem cabelo liso, os enrolam à moda rasta. O menino tem cabelo comprido , dentes de coelho e um jeito selvagem, me lembrando o moleque de "Mad max-2". Fica sacudindo meu braço como se fosse um cipó e eu pensando que eu não tenho mais saúde pra isso.
--- Compra! Compra!
Passava por nós um vendedor de balões em formato de animais. Ele queria o unicórnio. Sempre achei unicórnio um bicho estúpido demais, apenas um cavalo com um chifre na testa. Muito sem imaginação. Teria sido traído pela égua? Então, pensei que foi isso que me atraiu na mãe do guri. Aquele cabelo rasta parecia uma bela e volumosa crina, e ela não se movimentava igual ás outras mulheres. Parecia uma cavala no cio. Esperando que um garanhão a montasse. Bom.... Enquanto o tal garanhão não aparecesse, não custava nada, tentar uma aproximação, né mesmo?
Pelo seu jeito despojado, achei que não seria nada mau jogar um papinho furado de artista:
--- Gosta de poesia?
--- Gosto. Conheci o pai do Tauanã durante uma performance poética.
"Tauanã?! Que merda de nome é esse?" Pensei.
--- Tauanã! Que nome mais lindo! - Falei.
--- É Tauã com Iançã!
---- Hmmmm...Legal. Então, sou poeta performático. A performance é como se fosse uma meia colorida, que calço nos dedos calejados da vida cotidiana.
--- Ai! Que bacana!
Dizia isso, sem poder tirar os olhos daqueles pés imundos. Pensando que mesmo o divino não estaria livre de se macular ao pisar no chão miserável de nosso mundo.
--- Ei! É o 'Box' ali! Eu vou comprar erva e já volto! Fica com o tio, Tá !
Fiquei segurando a mão do garoto, enquanto a mamãe dele ia comprar maconha com o tal de 'Box', um sujeito com um gorro enorme na cabeça, que realmente ficava parecendo uma caixa. Momento singelo. Nesse ínterim, comprei a bexiga para o moleque.
Ouço minha linda rindo, enquanto 'Box' lhe apalpa a bunda. Ela então retorna.
--- Valeu, coroa! Vô queimar o bagulho com o 'Box', num baile Soul. Olha, Tauanã! Ganhou um unicórnio? Agradeceu o tio?
Fiquei lá, paralisado. Em choque. Fui chamado de coroa. De tio. Me sentindo um pangaré velho e desdentado, vendo minha égua de cascos encardidos ir embora com um corcel negro jovem e de músculos fortes e dentes impecáveis. Sim...Meus amigos. Lá se foi ela, o filho dela e a porra do unicórnio. Que me custou dez reais!

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