sexta-feira, 7 de outubro de 2022

Memórias de Polaroid

 

Será que você ainda guarda aquela velha fotografia? Registro de um momento de loucura e esperança de amor? Primórdios da internet discada. As batidas de meu coração acompanhavam aquela discagem que muitas vezes falhava. Mas minha vontade de te conhecer não falhava nunca. Nos falamos então, por telefone fixo. Você me pediu uma fotografia. De roupa social. Você achava bonito homem de roupa social. Pedi para alguém tirar. Vesti minha melhor roupa e fiz pose de homem sério. A máquina Polaroid cuspiu na hora aquele registro de ansiedade. Mandei a foto pelo correio. Para o endereço de seu trabalho. Era muito cedo para saber onde você morava. E eu, tolo, aceitei. Você me achou bonito. Marcamos de nos encontrar no cinema do shopping. Estreava o primeiro filme dos "X-Men"..Poxa..Tem mais de vinte anos, hein? Esperei... Vendo as pessoas entrando. O filme já ia começar. Me senti tão estranho e excluído como os mutantes do filme. Mas sem nenhum super poder. Te liguei do próprio banco onde você trabalhava num setor interno, de um telefone que me indicaram. Você me disse que não poderia mais me conhecer. Que seu ex voltou para você. Para eu não fazer escândalo e ir embora. Exigi minha fotografia de volta. Você disse que mandaria e estou esperando até hoje... Posso vê-la perdida em meio a mais um monte de homens bonitos de roupa social... Era seu fetiche, não é? Você nunca de fato, pensou em me conhecer pessoalmente... Relembrei de tudo isso ao achar uma foto daquela época. Não estou usando roupa social. Mas... Meu Deus... Como eu era bonito... Aproximo então, esse homem jovem para meus lábios já murchos e cinquentões e beijo a face de dias de sonhos e vitalidade que nunca mais voltarão...

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