sábado, 16 de dezembro de 2023

Amargoso Fel

 

Chegando cansado em casa

depois de estafante ida ao supermercado,

Eis que  me deparo com um acontecimento que me arrasa

Vi que meu inchado dedo, fora abandonado

 

Já não tinha aquele abraço à envolve-lo

dando aquele aspecto de enfeite

Fiquei a olhar e apalpá-lo inteiro

na vã esperança de achar o objeto ausente

 

Já perdi várias coisas na vida

de animais de estimação à amores de verdade

Mas hoje, envolvido pelos eflúvios da bebida

me dei conta desta real ambiguidade


Que se me acostumei com a solidão

Não me acostumei com a ausência de certos adereços

que se somem, causam sofreguidão

Jogando luz sobre aquilo que finalmente acho que já desmereço

 

Mas não, estava tudo ali

naquele barato e desprezível metal

Todas as desilusões que um dia sofri

E constatei toda a verdade afinal

 

O anel é como a poesia

Uma transmutação de minhas diárias dores

e sua perda é como um espinho que meu dedo furaria

ao manusear embevecido um buquê de flores!

 

Oh! Meus nobres amigos!

Eu perdi o meu anel

que em sua pequena e circular forma era como um abrigo

neste mundo tão feio e cruel

 

Agora ando desencantado

e desprovido do prateado anel

e com o solitário dedo, apenas com a marca ornado

levantando um brinde à mais uma decepção, amargoso fel! 


André Diaz


 

 

 

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