Crrrccc...Crrrrccc...Meus joelhos fazem esse barulho de sucrilhos sendo mastigado, enquanto arrumo minha cama. Isso me dá arrepios, pois começo a pensar que sou feito de ossos, cobertos com camadas de substâncias viscosas, que um dia irão apodrecer.
Desço ao supermercado, para comprar óleo, uma moça passa por mim, fazendo cooper, os caras do posto de gasolina sorriem e assobiam, entusiasmados. Eu já não me entusiasmo tanto, apesar dela ter um bumbum convidativo, é que acho que calça de lycra segura muito, assim como o jeans. Eu prefiro aquele tipo de tecido que deixa as nádegas mais soltas, "tremelicantes".
De repente, já não é mais dia, é noite. Estou no ponto de ônibus e não consigo tirar os olhos do pé daquela outra mulher. O esmalte prateado solta-me raios lazer paralizantes, e eu fico lá, hipnotizado. Meu ônibus passa. Fico vendo o tempo passar, desde a invenção da roda, até o fim absoluto. Nada mais restou. A terra devastada apenas deixou-me um galho seco, com uma folha engraçada. Ela tem cara de cão. E me encara. Eu sei que é só o vento batendo. Mas parece que esse pequeno cão balança a cabeça, inconformado com o unico epécime humano existente.
--- Então, tu és o que chamam de homem?
--- Quem chama? Não há mais ninguem!
--- Os elementos do vazio, o chamam assim!
--- Há elementos no vazio?
--- Rá! Rá! Pensas que és grande coisa? Saco de tripas e ossos!
--- Posso não ser! Mas sou algo! Não o vazio!
--- Apodrecerás e pertencerás tambem, ao vazio!
--- E o que é o vazio, afinal?
--- O vazio é o impensado! O que não foi inventado! O vazio sempre haverá de existir! Porque não existe, de fato!
--- E o que é o existir? A existência, então, não teria importância?
--- A existência é o rolar da pedra!
--- De onde vem a pedra?
--- Ela vem do alto! Ou, às vezes, é impulsionada de baixo, mesmo!
--- Mas, o que é a pedra?
--- A pedra é formada de outra, que se partiu e sua poeira juntou-se no vazio, formando outra! Que tambem haverá de rolar e se espatifar no fim, e dar início a outra, e assim por diante!
Nisso, um vento mais forte bate na cara do cãozinho-folha, que vira poeira, que vai para lá longe.
--- Então, é isso...
Balbucio, me ajoelhando e sentindo que então, viria um vento bem mais forte, para desfazer-me em poeira. E, quem sabe, o que aprendi, retorne intacto, na formação de uma nova pedra, mais resistente, e que não se quebre tão fácil, no terreno da vida humana.
terça-feira, 10 de maio de 2011
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