sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Esperança

Ofegante, percorre as entranhas...
de uma cidade corrupta e desumana,
Aqui embaixo, suas maneiras não são estranhas...
Aqui, se é o que é, ninguem se engana...

Apesar da máscara, a habilidade...
de não precisar de mais nenhuma,
Na podridão do esgoto, mais perto da Verdade,
Mais na frente, alguem tosse, fuma...

Sua mão tateia, pele àspera,
e fria, como cadáver...
"Olá! Peregrino maldito! Tire a máscara...
Me mostre teus pecados, deixe-me ver!"

"Meu rosto morreu com tudo lá em cima!"
"Ah! Quem és afinal, cavaleiro funéreo,
a carregar nos braços, tão bela menina?
Por acaso, és a quem chamam de Mistério?"

"Sim, sem nenhum passado...
e cujo futuro, é uma incógnita,
Minha filha doente, é pesado fardo...
Disseram que com o velho do esgoto, ficaria ótima!"

"Ah! Acreditas ainda, em milagres?
Vejo que carregas um rasgado evangelho..."
"Bom...Fazes o que dizem, ou não fazes?"
"Este curandeiro...Está bem velho..."

"Mas, diga! Como se chama a criança?
Ou tiras-te sua identidade, tambem?"
"É a unica a acompanhar-me! Chama-se Esperança..."
O velho orou baixinho, terminando com amem...

Coisa que o peregrino já fez tanto,
Mas que não trouxe melhora alguma...
O velho do esgoto a leva então, a um canto...
"Deixe-a! Continua tua busca! Suma!"

"Continuar? Mas...Sem Esperança?"
"Ela está definhando! Precisa de descanso!"
"Voltarei!" Diz o mascarado, que avança...
para o velho, na cadeira de balanço...

"Não tire-me a menina! É o que me resta!"
"Não te servirá, tombando morta...
Segue em qualquer direção, naquela ou nesta,
Para as questões que lhe afligem, só dentro de ti mesmo...
Encontrarás respostas..."

Percorreu tuneis fétidos...
Com a negra capa, a arrastar-se...
Esbarrou em outros andarilhos, àvidos...
Voltou correndo, não podia enganar-se!

Apertou a menina nos braços,
"Esperança! Sem ti, não posso continuar..."
Estreitando assim, mais os laços...
Que a sua vida sem rumo, ela haveria de estar...

"Vai me levar ao Lugar Melhor, papai?"
"Sim! E com tua ajuda, hei de encontrar!"
"E vai me comprar doces? Vai?"
Nó na garganta, à Esperança, volta a se agarrar!

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